Certamente a dança é uma prática do fazer humano, um movimento do tornar-se humano e não pode ser compreendida somente como um exercício próprio dos dançarinos. Dançar é mover, brincar, co-mover, criar, viver, amar.
A dança como linguagem, que pré-existe à palavra, diz do eu, do outro, do homem americano há 40.000 mil anos nas cavernas do Piauí (Serra da Capivara). Diz do antigo e do novo, diz da vida, diz do corpo e da tradição humana. A dança então oferece um outro modo de conhecer e de viver na linguagem a partir de um aprender e conversar lúdico, criativo, amoroso e aberto. Ela remete à história da vida no corpo, no espaço-tempo da presença de um corpo vivo. No tempo do corpo e de corpo presente, nessa presença vale a pena confiar por ser a Verdade corporificada de um corpo herdado, herdeiro da experiência humana.
Mesmo com o passar dos séculos, ultrapassando tempo, visões, conceitos e uma grande diversidade de experiências vividas, cada ser humano pode se presentificar para o outro a qualquer momento e é dessa forma que se pode ser eterno. Da mesma maneira é na dança e na vida que se constitui o verdadeiro espírito da comunhão, fundamento para uma ética da convivência e existência humana.
A dança pode ser vista como a mãe de todas as artes. Nela o criador e a criação, o artista e sua obra são uma coisa única e idêntica: quando sou meu corpo, meu corpo sou eu.
Uma representação animada de um mundo visto e imaginado foi criada pelo homem com seu próprio corpo por meio da dança, antes mesmo de utilizar a substância, a pedra e a palavra para destiná-las à manifestação de suas experiências. Segundo Stanley Keleman: ”Os adultos capazes de fazer modelos somáticos da sua experiência interior e formar uma relação interna mais profunda consigo mesmos vivem como artistas”.
Dançar é abrir-se para uma viagem para dentro de si mesmo em contato com aquilo que se é de uma forma integrada, criativa e lúdica. Dito por Graciela Figueroa: “Dançar é viver…” e, é também o aprendizado de uma vida. No dançar descobre-se a dança como forma de expressão e como forma de estabelecer um olhar sobre si mesmo e sobre um corpo que se constitui. Cada forma-movimento torna-se uma revelação, um re-encontro consigo mesmo. A dança que se dança é a dança da vida, naquilo que se é e não é, ela é a sua própria ação alcançando camadas mais profundas de um si mesmo, constituintes de um corpo-próprio. Desse modo “Nosso viver corporal molda a nossa existência […] O [seu] corpo não é apenas sensível, é também formativo. A sua formatividade é uma cornucópia de anseios de enriquecimento e preenchimento. A pressão contínua para moldar o seu viver insiste em que você seja mais… seja mais você mesmo”.
Os adultos capazes de fazer modelos somáticos da sua experiência interior e formar uma relação interna mais profunda consigo mesmos, vivem como artistas.
Ser no Corpo
Não temos corpos. Somos corpos. Um certo corpo. Esse é meu corpo. Somos espíritos que não pairam.
Estamos aqui.
Somos matéria, somos espíritos, somos humanos.
Corpos que duram, que brilham, que ardem.
Chama, que chama sua própria natureza para perto de Si.
Corpo, matéria da luz.
Corpo ciente que é matéria, Ciente que é energia, Ciente que é luz.
Corpo que dá a luz.
Corpo energia da luz refletida num continuum de cor.
Corpo: íris do amor.
Sonia Andrade